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Síndrome de Hannah Horvath

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Ou: Em tempos de facebook, as pessoas esquecem-se de que ainda são pessoas.
Ou: Será Lena Dunhan a voz da nossa geração?

Os dramas absurdamente reais dos personagens da série Girls, que tem como protagonista Hannah Horvath, jovem de 20 e poucos anos, um pouco acima do peso e precisando se virar em Nova York, se aproxima tanto das nossas vidas que até envergonha.




A situação da garota não está tão longe da maioria das garotas dessa idade, não importa em qual lugar do mundo elas estejam; estamos na transição entre depender dos pais e virar definitivamente adulto e sair de casa; ter um emprego, um namoro sério, se casar; decidir se segue o coração e vira músico ou a razão e entra na faculdade de engenharia.

Se tornou muito comum entrar em blogs diversos e encontrar garotas rasgando elogios e/ou afirmando o quanto se identificam com a série. Da mesma forma aconteceu na época do lançamento de Frances Ha, uma garota desajustada, percorrendo seus sonhos em uma cidade grande e vendo tudo dar errado.




Hannah é egocêntrica pra caramba e completamente cômica. Tem problemas de auto-estima e uma melhor amiga absolutamente linda, Marnie; mesmo sendo linda e com um bom emprego, Marnie não está feliz em seu relacionamento; termina o namoro e perde o emprego. As outras amigas também não estão numa melhor: uma viciada e uma virgem, com seus próprios dilemas dos 20 e poucos.

Em dado momento, as coisas começam a dar tão errado, mas tão errado para as garotas, que até parece que o roteirista da minha vida andou fazendo freela pra Lena Dunhan (escritora/diretora da série).

Mas é exatamente aí em que acontece essa identificação com o público. Essa identificação tão real que faz a crítica dizer que Lena é a voz da nossa geração, ainda mais considerando o fato que se inspira na sua própria vida para escrever os episódios. No facebook é difícil saber dos dilemas das pessoas que você segue ou se relaciona, porque lá, elas (nós), mostramos apenas o lado bom. Fazemos check-in no Outback no fim de semana e nunca no bar da esquina no qual tomamos café todo dia. A gente vive assim, meio no perrengue, muitas vezes trabalhando em empregos não tão legais, mas o importante é postar aquela foto sorridente no instagram só pra reforçar que está mesmo tudo bem.

Então, ao nos depararmos com Girls, nos tornamos cientes de que, embora a gente tente desesperadamente esconder, a nossa geração é um bando de jovens meio perdidos na transição para a vida adulta. Que trabalhamos, sofremos, choramos, nos divertimos, transamos e não fazemos a mínima ideia de onde isto tudo vai nos levar.




A parte boa disso é que Girls mostra que a vida das pessoas reais não é um blockbuster americano com atores atléticos de beleza imaculada interpretando jovens ricos de 17. Girls tem uma protagonista acima do peso, que joga ping pong só de calcinha - que te faz pensar que está tudo bem, não é um crime ser gorda e andar pelada pela casa e casualmente na frente de outras pessoas.

Porque a gente é gente de verdade. Gente que tem defeitos, que baba no travesseiro, que fica ruim do estômago as vezes, que sente um prazer quase culpado em cutucar o ouvido com cotonete até machucar. A gente não é o que o facebook mostra, mas muito mais o que Girls mostra - as vezes não tão desastrosos, outras vezes até pior, mas certamente muito longe do ideal hollywoodiano. 



E quando metade da blogsfera se diz parecida com personagens como a Hannah ou a Frances, não é para parecer cool - não é nada cool se assumir praticamente um fracasso. Seria mais legal ser linda, bem sucedida e a que a nossa única preocupação no fim do mês fosse qual cor do próximo louboutin comprar. Mas essa não é a nossa vida.

E por mais que seja um tanto triste passar pelos 20 e poucos anos meio confuso e perdido; escolher uma profissão que você ama mas que não vai dar dinheiro; querer se casar mas tudo o que você pode no momento é juntar os panos em uma kitnet no Anhangabaú; pagar seu carro em prestações que fogem de vista e por isso não conseguir fazer aquela viagem que você tanto sonha... é a realidade da maioria das pessoas. A parcela privilegiada (leia-se: berço de ouro) ou que conseguiu ser feliz cedo fazendo o que ama, é muitíssimo pequena. Nós, a grande massa, iremos passar por estas coisas em alguma fase da vida. E aposto que os 20 e poucos é um bom momento para isso.

Eu até me envergonho mais do que consigo demonstrar de ter chegado aos 26 sem estar com a vida que eu imaginei quando tinha 15. Eu queria morar sozinha, eu queria ter me formado mais cedo, eu queria viajar todo feriado, mas hoje eu não posso. Por isso que sim, eu me identifico com Hannah, provavelmente já cometi metade dos erros que ela comete, e isto tudo porque, apesar de mostrar apenas a parte boa no "faice", eu sou (nós somos) pessoas com dilemas normais e pode ser que muita gente não concorde, mas eu acredito que Lena Dunhan com sua obra, se tornou a voz da nossa geração.



Como tem sido sua a sua passagem para a vida adulta?
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