Há muito tempo eu queria ir para o meio do mato me desconectar do mundo e me conectar com a natureza. Na chegada, montando a barraca no escuro a 1 da manhã, com aranhas pulando por cima das coisas e insetos me picando, eu já queria ir embora. Mas no fim do primeiro dia eu já deitava na grama e desfrutava da gostosa sensação do insetos passeando pelo meu corpo.
Você entende que a natureza não vai te fazer nenhum mal. É você quem está invadindo o espaço dela, é você quem está em cima da casa daqueles bichos. Você respeita a natureza e ela não te fará mal.
A música o tempo todo tocando nos mantinha em um estado alterado de consciência. Parecia um transe 24hs por dia, do qual ninguém queria mais sair. A gente era capaz de ficar horas sentado na beira da piscina em estado de contemplação, sem conversar. Fumar um beck parecia que puxava toda a brisa das drogas que usei há tempos atrás e me mantinha chapada por horas. Sentir a natureza pulsando, respirando junto com você.
Quando eu deitava e fechava os olhos, podia sentir essa força e nas minhas viagens eu tinha visões claras e consciência total de que eu era uma partícula no universo. Quando eu me conectava muito com a música eu me fundia com a mãe natureza. Uma experiência muito difícil de alcançar morando na cidade e muito mais fácil estando under the influence.
Na minha primeira visita a cachoeira eu senti medo dela. Muito alta, queda pesada, me senti um grão de areia. Voltei, sentei na grama, tomei um ácido e ali permaneci até o fim da tarde. Ouvi uma voz de fada cantando gemidos desconexos ao ritmo da música. Era uma artista gringa que minutos antes rodava seu bambolê nos mantendo hipnotizados. De repente alguém assobiava ritmadamente dando um tom a mais à música instrumental. Grupos se reuniam na grama, conversas, danças, beijos, gentilezas, abraços, cores. As árvores eram mais coloridas, a grama era mais verde. As pessoas em volta sorriam. Eu estava onde deveria estar. Por favor, preciso me lembrar deste momento.
Meus amigos aos poucos foram se juntando a mim. Voltando da cachoeira, se recompondo. A tarde caiu e começou a esfriar. Descemos para tomar banho. Os chuveiros eram a céu aberto a alguns metros do acampamento, mesmo assim alguma pessoas montaram suas barracas bem ao lado. Ok, vou tomar banho de calcinha. Bom, ta escurecendo, muitos tomam banho pelado, a gente tá na Voodoohop, a "festa dos pelados", como dizem por aí... por que não? Tomamos um banho pelados a céu aberto mais gelado das nossas vidas. "Preciso guardar este momento".
A noite caiu, a música aumentou, um amigo me puxou correndo, "você vai gostar disso". Alguém fazia uma performance que eu não consigo explicar. Sentamos na grama, esperando a qualquer momento aquela pessoa virar uma águia e sair voando. Usando o próprio corpo como tela para uma projeção de imagens, que se misturavam com uma espécie de asa que ele girava. "Preciso guardar este momento, preciso me lembrar depois".
Desci pra área da piscina. Deitei num lounge com outros amigos, fumamos um, cochilei. Me levantei e olhei em volta. A iluminação preparada para deixar as árvores com um aspecto de 3d, com o movimento do vento, era mágico. Projeções em outras árvores, cores, sonhos. Thomas Haferlach começou seu set, e a pista transcendeu.
Fui pra barraca.
No meio da noite acordei com um DJ mixando a música "because" dos Beatles. Me lembrei da cena do filme "Across the Universe", quando eles cantam deitados na grama. Quis levantar e repetir a cena, mas o cansaço era maior. Horas depois acordei com uma do Nômade Orquestra. Nômade é uma das minhas bandas favoritas. "Preciso me lembrar deste momento". No dia seguinte ouvi histórias sobre como a pista daquela noite estava ritualística. Meu amigo disse: "em um momento eu tava dançando e senti que não era eu quem estava ali".
Decido subir a cachoeira. Encontrei meus amigos de novo. Dessa vez, tomei coragem e fui na nascente. Entrei na água gelada, ainda com medo. Um amigo que amo chegou de São Paulo e eu fiquei muito feliz. Lembrei muito de uma amiga, que com certeza iria energizar suas pedras e nadar pelada. Lembrei do meu "marido", que já partiu de volta pra sua cidade. Ele ia amar ter feito esta viagem comigo. Ficamos por ali e fizemos planos de subir o pasto das vacas pra caçar cogumelos, mas não choveu, portanto decidimos que não teria nenhum.
Desci, tomei outro ácido e fui pra piscina. A roda de sampleé uma roda onde vários Djs tocam juntos no improviso e é sempre delicioso de assistir. Calefação Tropicaos começou a tocar, a galera animada, sol queimando, minhas amigas já sem o biquíni. Tudo estava como tinha que estar. Um cachorro passeava por ali, distribuía amor pra todo mundo. Momentos.
A noite chegou, fui dar uma volta. A geodésica já estava montada, mas eu não entrei, não senti que precisava. Já tinha energia demais rolando em mim.
Fui pra pista esperar o R Vicenzo tocar. O Vicenzo é um dos meus Djs favoritos, com uma psicodelia brasileira, ele mistura algumas letras de MPB, batidas de funk, rap, cumbia entre outros. Tudo estava lindo. Os visuais, as projeções, ao longe uma projeção na Pedra do Macaco, poucos notaram. Meu amigo disse "eu tô aqui há dias, a gente fez a montagem da festa todo mundo muito louco". Deu certo. Um momento todas as luzes apagaram, não lembro mais qual das noites isso aconteceu, eu tava muito chapada na hora e tomei uma consciência absurda de onde eu estava. No chão, a única luz era de uma lagarta linda, uma cena que me lembrou do filme "As aventuras de Pi".
Thomas, idealizador da Voodoohop e o cara que iniciou a cena de festas de ruas e ocupações que eu participo hoje, andava por ali, com seu olhar doce e sorrindo pra todos os lados. Lembro de querer sentir o que ele estava sentindo, ver sua festa ainda funcionar mesmo depois de anos e depois de ter saído do Brasil. A Voodoo vai voltar, é o que escuto há uns 6 meses. Ia chegar o momento certo de agradecê-lo por tudo. Me senti feliz, lembrei do bar do Netão e nunca imaginar que encontraria tudo novo e diferente em 2014 e nem que eu estaria em Heliodora com eles em 2017. Eu vou agradecê-lo quando estiver mais sóbria.
A Dayane de São Paulo não estava ali, nem lembrava que existia uma vida fora dali. Sem bateria no celular, sem sinal de internet, sem notícias de fora. Será que o Temer já caiu? Se não fossem pelos compromissos aqui, eu ficaria dias lá. Não precisava de nada. A gente se olhava e repetia,"eu não preciso de mais nada".
Desci pra desmontar minha barraca, com a ajuda dos amigos que tem mais experiência do que eu em acampar. Dessa vez não tive medo e nenhuma aranha apareceu. Entreguei os ilícitos que sobraram pros meninos, "o que vem pra Heliodora não sai de Heliodora". Fui pegar a nave de volta. Ouvi histórias sobre aqueles dias, coisas engraçadas, momentos mágicos, imprevistos, etc.
De volta a São Paulo ainda não desconectei de lá. Você está muito introspectiva, eles dizem. Meu roommate chegou ontem a noite, voltando a falar com os amigos que voltaram antes, ainda recebendo notícias e fotos dos que ficaram por lá. Como disse um amigo, "Heliodora é um investimento em saúde mental". Precisamos voltar. Precisamos.
Você entende que a natureza não vai te fazer nenhum mal. É você quem está invadindo o espaço dela, é você quem está em cima da casa daqueles bichos. Você respeita a natureza e ela não te fará mal.
A música o tempo todo tocando nos mantinha em um estado alterado de consciência. Parecia um transe 24hs por dia, do qual ninguém queria mais sair. A gente era capaz de ficar horas sentado na beira da piscina em estado de contemplação, sem conversar. Fumar um beck parecia que puxava toda a brisa das drogas que usei há tempos atrás e me mantinha chapada por horas. Sentir a natureza pulsando, respirando junto com você.
Quando eu deitava e fechava os olhos, podia sentir essa força e nas minhas viagens eu tinha visões claras e consciência total de que eu era uma partícula no universo. Quando eu me conectava muito com a música eu me fundia com a mãe natureza. Uma experiência muito difícil de alcançar morando na cidade e muito mais fácil estando under the influence.
Na minha primeira visita a cachoeira eu senti medo dela. Muito alta, queda pesada, me senti um grão de areia. Voltei, sentei na grama, tomei um ácido e ali permaneci até o fim da tarde. Ouvi uma voz de fada cantando gemidos desconexos ao ritmo da música. Era uma artista gringa que minutos antes rodava seu bambolê nos mantendo hipnotizados. De repente alguém assobiava ritmadamente dando um tom a mais à música instrumental. Grupos se reuniam na grama, conversas, danças, beijos, gentilezas, abraços, cores. As árvores eram mais coloridas, a grama era mais verde. As pessoas em volta sorriam. Eu estava onde deveria estar. Por favor, preciso me lembrar deste momento.
Meus amigos aos poucos foram se juntando a mim. Voltando da cachoeira, se recompondo. A tarde caiu e começou a esfriar. Descemos para tomar banho. Os chuveiros eram a céu aberto a alguns metros do acampamento, mesmo assim alguma pessoas montaram suas barracas bem ao lado. Ok, vou tomar banho de calcinha. Bom, ta escurecendo, muitos tomam banho pelado, a gente tá na Voodoohop, a "festa dos pelados", como dizem por aí... por que não? Tomamos um banho pelados a céu aberto mais gelado das nossas vidas. "Preciso guardar este momento".
A noite caiu, a música aumentou, um amigo me puxou correndo, "você vai gostar disso". Alguém fazia uma performance que eu não consigo explicar. Sentamos na grama, esperando a qualquer momento aquela pessoa virar uma águia e sair voando. Usando o próprio corpo como tela para uma projeção de imagens, que se misturavam com uma espécie de asa que ele girava. "Preciso guardar este momento, preciso me lembrar depois".
Desci pra área da piscina. Deitei num lounge com outros amigos, fumamos um, cochilei. Me levantei e olhei em volta. A iluminação preparada para deixar as árvores com um aspecto de 3d, com o movimento do vento, era mágico. Projeções em outras árvores, cores, sonhos. Thomas Haferlach começou seu set, e a pista transcendeu.
Fui pra barraca.
No meio da noite acordei com um DJ mixando a música "because" dos Beatles. Me lembrei da cena do filme "Across the Universe", quando eles cantam deitados na grama. Quis levantar e repetir a cena, mas o cansaço era maior. Horas depois acordei com uma do Nômade Orquestra. Nômade é uma das minhas bandas favoritas. "Preciso me lembrar deste momento". No dia seguinte ouvi histórias sobre como a pista daquela noite estava ritualística. Meu amigo disse: "em um momento eu tava dançando e senti que não era eu quem estava ali".
Decido subir a cachoeira. Encontrei meus amigos de novo. Dessa vez, tomei coragem e fui na nascente. Entrei na água gelada, ainda com medo. Um amigo que amo chegou de São Paulo e eu fiquei muito feliz. Lembrei muito de uma amiga, que com certeza iria energizar suas pedras e nadar pelada. Lembrei do meu "marido", que já partiu de volta pra sua cidade. Ele ia amar ter feito esta viagem comigo. Ficamos por ali e fizemos planos de subir o pasto das vacas pra caçar cogumelos, mas não choveu, portanto decidimos que não teria nenhum.
Desci, tomei outro ácido e fui pra piscina. A roda de sampleé uma roda onde vários Djs tocam juntos no improviso e é sempre delicioso de assistir. Calefação Tropicaos começou a tocar, a galera animada, sol queimando, minhas amigas já sem o biquíni. Tudo estava como tinha que estar. Um cachorro passeava por ali, distribuía amor pra todo mundo. Momentos.
A noite chegou, fui dar uma volta. A geodésica já estava montada, mas eu não entrei, não senti que precisava. Já tinha energia demais rolando em mim.
Fui pra pista esperar o R Vicenzo tocar. O Vicenzo é um dos meus Djs favoritos, com uma psicodelia brasileira, ele mistura algumas letras de MPB, batidas de funk, rap, cumbia entre outros. Tudo estava lindo. Os visuais, as projeções, ao longe uma projeção na Pedra do Macaco, poucos notaram. Meu amigo disse "eu tô aqui há dias, a gente fez a montagem da festa todo mundo muito louco". Deu certo. Um momento todas as luzes apagaram, não lembro mais qual das noites isso aconteceu, eu tava muito chapada na hora e tomei uma consciência absurda de onde eu estava. No chão, a única luz era de uma lagarta linda, uma cena que me lembrou do filme "As aventuras de Pi".
Thomas, idealizador da Voodoohop e o cara que iniciou a cena de festas de ruas e ocupações que eu participo hoje, andava por ali, com seu olhar doce e sorrindo pra todos os lados. Lembro de querer sentir o que ele estava sentindo, ver sua festa ainda funcionar mesmo depois de anos e depois de ter saído do Brasil. A Voodoo vai voltar, é o que escuto há uns 6 meses. Ia chegar o momento certo de agradecê-lo por tudo. Me senti feliz, lembrei do bar do Netão e nunca imaginar que encontraria tudo novo e diferente em 2014 e nem que eu estaria em Heliodora com eles em 2017. Eu vou agradecê-lo quando estiver mais sóbria.
A Dayane de São Paulo não estava ali, nem lembrava que existia uma vida fora dali. Sem bateria no celular, sem sinal de internet, sem notícias de fora. Será que o Temer já caiu? Se não fossem pelos compromissos aqui, eu ficaria dias lá. Não precisava de nada. A gente se olhava e repetia,"eu não preciso de mais nada".
Desci pra desmontar minha barraca, com a ajuda dos amigos que tem mais experiência do que eu em acampar. Dessa vez não tive medo e nenhuma aranha apareceu. Entreguei os ilícitos que sobraram pros meninos, "o que vem pra Heliodora não sai de Heliodora". Fui pegar a nave de volta. Ouvi histórias sobre aqueles dias, coisas engraçadas, momentos mágicos, imprevistos, etc.
De volta a São Paulo ainda não desconectei de lá. Você está muito introspectiva, eles dizem. Meu roommate chegou ontem a noite, voltando a falar com os amigos que voltaram antes, ainda recebendo notícias e fotos dos que ficaram por lá. Como disse um amigo, "Heliodora é um investimento em saúde mental". Precisamos voltar. Precisamos.