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Como é Solitário Ser Criança

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Carrego comigo uma frase que ouvi em um filme - que não me lembro qual - em que diz: "se todos soubessem como é solitário ser criança..", e acrescento que sabemos sim, mas já nos esquecemos.

Não fui uma criança sozinha, sempre gostei de ter outras crianças para brincar - na época, meus primos. Sei dizer exatamente em que momento e por qual motivo isto mudou, depois de passar a sentir de verdade a solidão, mesmo hoje sabendo que quando você é criança não sabe definir bem aquele vazio.

No meu primeiro ano no colégio, a professora disse para minha mãe que eu era muito isolada e por isso não tinha um bom rendimento. Lembro que me senti muito mal com isso, pois eu gostava de fazer os deveres e brincar sozinha, e a preocupação da minha mãe me fez pensar que havia algo de errado comigo. Depois disso, decidi então brincar com os colegas no recreio e, vejam que ironia, logo no primeiro dia caí e quebrei o braço, o que levou ao meu afastamento durante cerca de um mês e fim das esperanças de fazer um amigo.

Na 4° série tivemos que nos mudar de bairro, e consequentemente de escola. Minha única irmã foi morar com uma tia no Mato Grosso do Sul, até que minha mãe estabilizasse. Na nova escola, todos os alunos já se conheciam bem, pois estudavam juntos desde a 1° série. Ninguém dá abertura quando já tem seu grupinho estável, e é você que está em uma situação vulnerável que precisa, por instinto de sobrevivência, se adaptar a algum grupo. 

Ninguém abriu seu grupinho para a aluna nova, ninguém nunca me chamou para brincar. Lembro que eu ficava sentada em um banco no meio do pátio olhando os alunos brincarem no recreio. Eu sabia o nome de cada um deles, e aposto que nem meia dúzia deles sabia o meu, ou se importava.

Nos finais de semana, eramos só eu e minha mãe, visto que minha irmã estava no MS. Ainda não tínhamos comprado sofá, então eu colocava uma cadeira em frente da TV para ver desenho. Tinha um som bem antigo, onde eu colocava algumas fitas que ganhei do meu primo para escutar, entre elas, Mamonas Assassinas. Até então, eu nunca havia conversado com as bonecas, coisa típica de criança, mas naquele ano eu descobri que essa era a única opção.

No ano seguinte, 5° série, fomos automaticamente transferidos para outra escola. Por mais uma ironia do destino, TODOS eles caíram na mesma turma, SÓ EU caí em turma separada. Lembro claramente de estar no banheiro arrumando meu enorme cabelo que ia na cintura, quando duas garotas da minha turma da 4° série entraram e vieram mexer no meu cabelo como se alguma vez na vida tivessem falado comigo, e uma delas disse: que pena, só você caiu separada da nossa turma. Lembro de estar feliz por dentro, pois uma nova turma era uma nova chance de ter enfim um grupo.

Nesta época, eu e minha mãe passamos as férias no Mato Grosso e trouxemos a minha irmã, e eu já podia ter novamente alguém para brincar, exceto pelo fato de que depois da experiência da 4° série, já havia desaprendido a brincar. E já não me importava.

@PetitDay

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